quarta-feira, 13 de maio de 2009

Crônica: Meu primeiro cavalo (parte 2)

Quem não leu a primeira parte, acesse a seção “crônicas”.

O que eu não sabia é que a minha vida se tornaria por demais agitada depois de adquirir aquele belo castanho no claiming.
No dia seguinte contei a notícia para todos que trabalhavam comigo no escritório. Portanto, a todo instante, durante o trabalho, havia alguém querendo saber se eu enlouquecera, outro curioso sobre se eu havia levado o cavalo para deixar no quintal, outro mais sensato querendo saber sobre as despesas do treinamento, etc. Ou seja, eu já nem conseguia mais trabalhar, uma vez que eu estava até parecendo uma atração turística dentro da empresa. Porém, eu estava aproveitando cada minuto da minha “fama”.
A única coisa que estava me tirando o sono era o fato de que o tempo ia passando e o páreo de meu cavalo não saía. Então, só me restava perguntar para o treinador e para a aprendiz acerca do estado físico do filho de Blush Rambler. Em todas as vezes a resposta que obtive era que ele estava tinindo e que estava fazendo muita força com a joqueta nos trabalhos. Isso me animava muito.
Até que um dia o treinador me telefonou para informar que o meu pupilo correria no domingo seguinte. Logo tratei de consultar a apuração de inscrições e senti até calafrios quando notei que a turma que ele enfrentaria havia saído bem mais forte do que as que ele enfrentara antes.
Durante a semana liguei para o treinador e perguntei o que ele achava da carreira e ele me respondeu que não havia jeito de perder, mesmo naquela turma, já que o cavalo ostentava ótima forma.
Quando falei com a aprendiz, obtive uma resposta mais cautelosa: “Olha, Leandro: seu cavalo sempre preferiu a milha, desta vez vai pegar os mil e quatrocentos e, sinceramente, acho que ele terá sérios problemas para acompanhar o “train” de carreira.” Logo lembrei de que o animal, como a maioria dos filhos de Blush Rambler sempre preferiu correr acomodado, mesmo na milha, e que a redução na distância poderia fazer com que ele corresse longe demais do pelotão da frente.
Porém, o treinador me afirmou que o cavalo havia sido aligeirado e que o “train” de carreira não seria problema.
Então, mesmo em dúvida se ele venceria o páreo ou não, convidei meus amigos mais chegados para assistir à corrida no domingo.
Chegado o dia, estávamos todos no hipódromo. Meus amigos “não-turfistas” não conheciam nada de corridas e achavam o ambiente do hipódromo muito curioso.
A única coisa que fazia com que se sentissem mais à vontade no local era a final do campeonato paulista de futebol que estava sendo transmitida na televisão.
Se não bastasse a ansiedade que eu já estava enfrentando por causa da corrida do meu pupilo que estava por vir, o tal jogo ainda consumia o que me restava de unhas, uma vez que o São Caetano, meu time do coração, perdia para o Santos por um a zero (resultado limite para que o Azulão do ABC se sagrasse campeão).
No entanto, a espera pela corrida finalmente chegara ao fim. Em torno das cinco da tarde, abandonamos o televisor com o jogo no intervalo e nos dirigimos, meus amigos “não-turfistas” para as arquibancadas e eu e meu camarada turfista para o winner circle, já que eu faria a vez de proprietário.
Ao chegar perto da aprendiz e do treinador, tentei esquecer do placar do jogo porque não queria demonstrar nervosismo perto deles. Eu não queria desmotivar o time (o de turfe) de maneira alguma.
Depois de um rápido contato, com joqueta e treinador, eu e meu amigo nos dirigimos para a arquibancada, pois o cânter iria ter início. Chegada a vez do meu pupilo, ele fez um galope puxando ligeiramente um dos posteriores.
O nervosismo aumentava cada vez mais. Eu nunca havia sentido algo daquele tipo, nem quando prestei a FUVEST a pressão foi tão grande.
Eu olhava para a pedra de rateios e ela não me animava nem um pouco, já que meu defensor era apenas a quarta força. Então expliquei para meus amigos que isso significava que as chances de derrota eram grandes.
Enfim chega a hora do alinhamento. Este não demorou muito. Eu e meu amigo que era do turfe estávamos tensos com a largada porque, como o castanho era muito mansinho, ele corria o risco de saltar atrasado.
Quando chegou a hora, abriam-se os portões e foi dada a largada. E meu pupilo a fez junto com os demais, mas foi ficando para trás como costumava correr. A vantagem que ele deu para o pelotão da frente assustava muito. Ele nem parecia um cavalo da mesma raça dos outros, já que corria uns cinco corpos atrás do penúltimo colocado. Porém, pouco antes da curva, o aligeiramento trabalhado nos treinos começou a fazer efeito, já que ele começou a se aproximar da tropa em rápidos galões, o que começou a dar alguma torcida para meus amigos.
No entanto, meu pupilo estava tão aligeirado que a aprendiz não conseguiu sofreá-lo e teve de fazer a curva por fora de nada menos do que três competidores para não correr o risco de que seu pilotado alcançasse as patas dos demais.
Portanto, na reta de chegada, o castanho esboçou uma atropelada que logo “molhou”, já que o terreno que ele havia perdido foi muito precioso, e ele entrou em apagado quinto lugar.
Meu amigo do turfe contestou demais a condução da aprendiz e a discussão estava ficando quente. Então, eu saí em defesa da aprendiz dizendo: “já vi os melhores jockey de São Paulo pegarem cada caixote...” e ele respondeu: “Pegam caixote, mais uma curva daquelas eles não fazem!”. Meus outros amigos não agüentaram e caíram na gargalhada e isso acabou esfriando os ânimos.
Essa era a deixa que necessitávamos para voltar a assistir ao jogo que já estava em seus derradeiros quinze minutos.
Chegando ao extinto betting point do hipódromo, local onde assistíamos ao jogo, nos deparamos com o placar ainda de uma a zero para o Santos. Ou seja, ainda havia esperança de que eu comemorasse alguma coisa naquela tarde, pois esse resultado dava o título ao São Caetano.
Passados cinco minutos, uma bola é alçada na área do São Caetano, o goleiro não sai, e o atacante do Santos faz, de cabeça, o segundo gol que deu o título ao Santos.
Nessa hora, plagiando um personagem de uma famosa série infantil, só faltava que um cachorro molhasse as minhas calças, pois eu acabara de perder uma carreira no turfe e um título no futebol, que, pela vantagem que tínhamos antes do jogo, estava quase garantido.
Eu não quis ficar para assistir os páreos seguintes, pois fiquei muito abatido e, junto com meus amigos fui embora para a casa.

Novamente me estendi demasiadamente e terei de concluir essa história na semana que vem.

Até lá.

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