Editorial: Falta de Respeito com os Ídolos

No último sábado, em Cidade Jardim, vimos à avassaladora atropelada para a vitória de Hot Six. Teria sido um dia inesquecível para qualquer turfista, já que a qualidade técnica do páreo foi excelente, como era de se esperar, porém a rodada tripla de Flymetothemoon, Negro da Gaita e Quadriball acabou ofuscando um pouco o brilho da festa.
A imagem da queda foi muito feia e o público ficou atônito, pois ninguém sabia das condições físicas de Jorge Ricardo e Bruno Reis (Marcello Cardoso não necessitou ser hospitalizado) após o ocorrido. Circulavam, algumas horas depois, apenas boatos de que nada mais grave havia ocorrido.
O que acabou até entristecendo um pouco foi a tal da “chuva de prata” (um aparelho que despejou papel picado cor de prata, igual ao utilizado na Copa do Mundo de Futebol de 2002 e que virou moda desde então) após o páreo. Tudo bem que se tratava de um dia festivo e o título da prova havia ficado no Brasil, em ótimas mãos e “patas” diga-se de passagem, mas não se tinha certeza sobre uma tragédia que poderia ter se anunciado, o que, graças a Deus, não ocorreu, pois tudo não passou de um “susto”. Digo susto entre aspas porque Jorge Ricardo vai ficar uns três meses parado, ou seja, o acidente foi tão leve.
Não digo que a vitória não deveria ter sido comemorada. Um feito como a vitória em um GP Latino deve sim ser muito comemorada, porém há comemorações e comemorações. Apenas acredito que a festa poderia ter sido um pouco mais comedida – lembro que não estou me referindo aos titulares do Stud Estrela Energia que se mostraram muito polidos durante a cerimônia de comemoração - além do que, o público presente poderia ter sido informado, assim que possível, de que nada de mais grave havia ocorrido.
Sempre gosto de lembrar que os animais e os jockeys são nossos ídolos e o turfe, como qualquer esporte, vive dos seus ídolos. Quando deixamos de respeitar aos ídolos, é porque o esporte não nos tem mais valor algum. E, se os próprios turfistas não derem mais valor ao Turfe, poderemos imaginar que o “Esporte dos Reis” caminha a passos largos para o seu fim.
Espero não ser interpretado como um “estraga prazer”. Só não posso me calar diante de fatos como esse, pois ainda confio na reabilitação do turfe nacional e não medirei esforços para que isso aconteça.