sexta-feira, 1 de maio de 2009

Crônica: Meu primeiro cavalo (Parte 1)

O sonho de nove em cada dez turfistas é ter um bom cavalo defendendo seu nome e suas cores na raia. Não poderia ser diferente, pois quem é apenas apostador e frequenta o hipódromo já está acostumado em ver os proprietários descerem das arquibancadas para o “winner circle” antes do páreo em que correrá o seu pupilo para conversar com seu treinador e jockey, além de ver mais de perto o seu animal.
Toda essa situação representa parte do “glamour” que dá um toque todo especial às corridas. E quem ainda não participa de tudo isso (aqueles que não possuem cavalo) acaba por invejar aos proprietários mesmo que inconscientemente.
Eu não era diferente. Tinha um desejo muito grande de ter um pupilo correndo em Cidade Jardim. E esse desejo somente aumentava quando eu averiguava que os preços dos animais de claiming eram muito acessíveis (na época havia animais sendo postos à venda no claiming quase que pelo seu valor residual).
Como eu havia algumas economias guardadas, comecei a pensar seriamente em adquirir um desses animais no claiming, fazendo isso em sociedade com dois amigos. Porém, não obtive sucesso, já que estes se assustaram muito com as despesas do trato.
Mesmo assim não desisti da idéia e meus amigos ainda me apresentaram a um treinador conhecido deles, algo que facilitaria muito em minha empreitada. Portanto, como já estava decidido que compraria o animal contando apenas com meus próprios recursos, passei a falar regularmente com esse treinador sobre boas compras que poderiam surgir.
Hoje, quando olho para trás, chego à conclusão que tive muita sorte, já que chegamos a acompanhar alguns leilões e, como o valor que eu investiria na compra não seria muito alto (calculo uns dois mil reais na moeda de hoje), vários animais que pensamos em comprar e que, graças a Deus, acabamos não comprando, não chegaram sequer a estrear.
Aconselhado pelo treinador, partimos dos leilões para os claimings. E foi aí que fiquei mais à vontade, já que, como desisti de comprar um animal inédito, teria o retrospecto do animal à minha disposição antes de compra-lo.
Então, foram oferecidos uns quatro animais pelo meu treinador até que eu escolhesse um filho de Blush Rambler em mãe Ghadeer que já estava um pouco velhinho (tinha sete anos), mas que andava voando nos claimings que disputava, sendo que em três atuações no gramado naquele ano ainda não havia saído do placê.
Embora seu desempenho fosse bom, sua idade avançada e o alto peso que ele andava deslocando em suas últimas atuações (58 Kg de acordo com o sue número de vitórias) acabaram barateando o seu preço, sendo que ele estava sendo oferecido pelo valor mínimo.
À essa altura, a minha iniciação como proprietário já estava bastante avançada: já contava com um treinador e já tinha em vista o cavalo que compraria. Agora eu teria que escolher quem seria o jockey que montaria o meu pupilo.
Como sempre acreditei que o peso que o cavalo deslocava era uma das principais variáveis que influenciavam em sua vitória ou derrota, comentei com o treinador que gostaria que o cavalo fosse montado por uma aprendiz de 3ª categoria que descarregava, portanto, cinco quilos, o que eu considerava um grande vantagem.
Fui muito criticado em minha decisão pelos meus amigos, pois a aprendiz era muito contestada, pois os turfistas diziam que sua tocada era muito fraca, já que ela era apenas uma menina de dezessete anos.
Sempre fui muito teimoso e desta vez não foi diferente. Contrariei a todos, já que acreditava muito no potencial da aprendiz que era extremamente calma e caprichosa em seus percursos, características essas que eu achava fundamentais para que um jockey obtivesse sucesso. E, além disso, ela já conhecia o animal, pois já havia inclusive vencido uma carreira com ele dois meses antes.
No dia do claiming em que estaria sendo vendido o filho de Blush Rambler, fui apresentado à aprendiz pelo meu treinador. Então, conversei com ela por umas duas horas e praticamente definimos ali que, caso meu lance fosse vencedor no claiming, ela seria a minha primeira opção de monta.
Como estávamos em maio, a noite estava muito fria e decidi ir embora antes do páreo do claiming no qual eu tinha proposta.
Logo na manhã da terça-feira, perguntei fiquei sabendo que o cavalo havia feito um ótimo segundo lugar, mesmo sendo mal conduzido e que meu lance havia sido único. Portanto, a primeira batalha estava vencida: adquiri o meu primeiro cavalo de corrida.

Como essa crônica ficou um pouco longa, vou postar o seu desfecho na próxima semana, contando sobre o desempenho do meu pupilo nas pistas e o dia-a-dia dos treinamentos.

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